21.7.07

são paulo

São paulo não é fácil. Em meio a aviões caindo, gruas que despencam com pedreiros não-voadores, crateras de metrô, e outros desastres naturais da competência humana, ficar sem carro nessa cidade é uma situação enlouquecedora.

Sou do tipo que vive criando motivos pra andar de bicicleta, achando que tenho uma vida saudável. Gosto de ir e vir, gosto de ser buscada e ficar sem carro pra sair com alguém, gosto de sair a pé com meus cachorros e ir grudando um programa no outro com eles a tiracolo. Mas quando não se programa, é um porre.

Meu carro quebrou. E mais uma vez, guincho. Eu, namorado, a menina, um cachorro no carro... malas e compras. Caos. Fico triste. A gente pensa que sendo mulher, morando sozinha, independente como sempre fui, sabe se cuidar.. e carro é um mundo paralelo sobre o qual não temos nenhum conhecimento, domínio e nem intimidade. Chego em casa e penso, agora é só esperar o mecânico ligar e saber qual foi o parafuso q desencaixou e fingir q entendi. E decido ir comprar tintas de uma reforminha básica em casa. Resolvi fazer eu mesma, afinal o pintor não veio. Pego mochilão de alberguista na Europa e lá vou eu pra Conibra- sim, até hoje não acho que aquele lugar tenha cara de C&C.

Ônibus chega rápido. Tô achando engraçado este exercício antropológico involuntário Pago e todos me olham ali dentro. Dez anos atrás, quando pegava cerca de 4 ônibus por dia, ou eu tinha me acostumado, ou não tinha cara de dona de carro, pois não me sentia tão analisada assim. Chego no Conibra. Sim, Conibra. Tudo tem q ser medido e calculado pra caber na mochila. Pincéis de pintor, rolo, badeija, tubos de água raz, thinner, fita crepe e dois galões de 3,6 litros de tinta pra carregar no braço mesmo. Volto podre e com o mesmo motorista e cobrador, que logo de cara deram uma risadinha de oi para mim. Era uma cantada ou uma tirada de sarro? Não sei.

Desço um ponto depois, não sei mais puxar a cordinha na hora certa. Ando duas quadras e meia a mais, mas penso "até que sou privilegiada de ter esta linha tão perto de casa". Chego em casa, as cachorras pulam como se não fizesse 40 minutos q eu tinha saído de lá e sim 3 dias.. descarrego tudo do mochilão, desembrulho tudo. Cadê o ânimo de pintar? Ficou no ônibus.

Talvez eu preferisse ter ficado em casa cozinhando algo gostoso ou costurando uma almofada bonita pra minha cama, nao ter passeado no guincho pagando mico pro novo namorado rir, nao ter desenterrado e entupido minha mochila de viagem de coisas pra pintura, nao ter este espírito de pedreiro nos fins-de-semana, de mulher maravilha faço-tudo-eu-mesma, e, óbvio, de não estar sem carro numa cidade louca como esta. Quem foi que teve a infeliz idéia de queimar os sutiås?

eu odeio feministas.

Apostos que elas não pintam a casa sozinhas.

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